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Dos alicerces da Escola Guignard

Procuração de Guignard outorgada ao Professor Pierre Santos.

      Desde quando conheci Guignard, isto por volta de 1951, e pude manter com ele uma cordial amizade, tinha vontade de escrever sobre seus trabalhos, tanto gostava deles. Cheguei até a produzir artigos ainda carentes de experiência, focalizando alguns deles, como cerca de dois aspectos de Belo Horizonte, dois de Ouro Preto, um de Sabará, naturalmente não aproveitados aqui, publicados na imprensa da época.

 

      Com o tempo, nossa amizade estreitou-se bastante, mormente quando me tornei Professor de História da Arte em sua Escola. Mais tarde, o mestre houve por bem nomear-me seu Procurador com plenos poderes para dirigir a Escola, pois já sentia o peso dos anos e estava fragilizado pela doença, portanto convencido de que não tinha mais a mesma disposição com a qual sempre cuidava dela. Seu grande temor, na época, era o de que a mesma (que não passava de mero ajuntamento de cursos esparsos e estanques, sem a organização curricular que uma instituição do porte da por ele desejada precisava ter, para poder funcionar e contar com a ajuda do poder público), viesse a acabar por falta de amparo legal. Conseguir este intuito tornou-se a luta de todos que estávamos empenhados a levar avante aquele objetivo.

 

      Como não era desejo de ninguém ver o Professor Guignard, criador daquela entidade, dela se desvinculando inteiramente dali por diante, a minha primeira providência, ao assumi-la, foi redigir, com o concurso de toda a congregação formada pelos professores que, gratuitamente, estivessem à frente de cada disciplina (quais sejam: Maria Helena Andrés, Yara Tupynambá, Sara Ávila, Wilde Lacerda, Lizete Selmi Dei Meimberg, Solange Botelho, Alberto Castro, Ione Ferreira Fonseca, Wilma Rabelo e eu) um Regimento, definindo com a nitidez possível a estrutura da Escola, oficializando as disciplinas já em pleno funcionamento, nas mesmas lotando os professores que estivessem à frente de cada uma delas, nomeando Jorge de Oliveira Santos Secretário da entidade, definindo devidamente o emprego das poucas verbas de que podíamos dispor (tão poucas, que não sobrava um tostão furado sequer para pagar os professores os quais, abnegadamente, ali davam a título de colaboração as suas aulas), e, acima de tudo, dividindo a Diretoria em duas categorias, sendo uma ocupada por um Diretor Presidente - o próprio Guignard - e outra ocupada por um Diretor Executivo - que no caso era eu, designado pelo primeiro na referida Procuração.

 

      Guignard vivia então em casa do Professor Santiago Americano Freire, aonde eu ia várias vezes por semana a fim de encontrá-lo, para pô-lo a par de tudo quanto ia acontecendo na Escola e de apanhar a sua assinatura em documentos a ela relativos, pois fazia questão de vê-lo assinando-os comigo. Nessas ocasiões, de conformidade com o disposto no item 4 da Procuração a mim passada, a qual será transcrita mais adiante, sempre queria saber das providências tomadas, comentando-as e até sugerindo outras, a se cumprirem.

 

      Imagino que qualquer pessoa hoje poderia avaliar o intensivo tempo que custavam a constante via-sacra em gabinetes de governadores, de secretários de estado, de prefeitos e infinidade de repartições públicas em geral. Pois Guignard fazia questão de ficar informado sobre como tinha sido cada visita por mim feita nesses lugares (as esperas impostas por algumas dessas secretarias pareciam eternidades...), mormente sobre alguns resultados que esta ou aquela providência tinha dado.

 

      Quando o mestre nos deixou, em 26 de junho de 1962, tiramos do Regimento da Escola a figura do Diretor Presidente, que ele ocupava, e tornei-me Diretor único da mesma, cargo que, sem nenhuma remuneração, ocupei até 1968, quando tive de afastar-me da direção da Escola por motivo de viagem para fora do país, passando o cargo, de comum acordo com nossa Congregação, ao Dr. José Guimarães Alves, ainda sim me mantive presidente da Fundação Guignard até os dias de hoje. Depois de sua gestão, várias pessoas também ocuparam o cargo, assumindo aquela direção e todos nós lutamos com afinco para vê-la o que hoje é: a Escola Guignard, funcionando a todo vapor e esplendidamente lá no Alto das Mangabeiras, devidamente amparada e assumida pelo Governo do Estado.

Pierre Santos

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