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OBRAS IMPORTANTES DE GUIGNARD EM DESTAQUE
COM A ANÁLISE DO PROFESSOR PIERRE SANTOS
Crucificação, 1950, 002-50, osm, 55 X 44 cm.
Começo com duas cenas da crucificação de Cristo. A primeira focaliza o momento em que os primeiros abalos sacodem a terra. É a terceira hora e pesadas trevas caem sobre o mundo. O sol lá em cima, cercado de poderosas nuvens, se recusa a iluminar o planeta. Aos pés do madeiro, Maria e Madalena clamam por Jesus. Drama, suspense, escuridão. Cristo e Dimas dialogam. Maria é toda dor, amparada por Madalena e Arimateia. Na sexta hora se dá a morte de Cristo e vagarosamente o dia começa a voltar. O martírio cumpriu-se e o sol volta a brilhar no monte.
Guignard pintou o quadro num marrom às vezes carregado, às vezes fluido. Apenas mais três cores aí aparecem: o branco no corpo dos sacrificados, que se estende a algumas partes do escampado; o azul, que as mulheres vestem aos pés do madeiro, cor que também se estende ali por perto; e o vermelho do sol, das nuvens à direita de algumas pessoas distribuídas pela esplanada. A leveza dos gestos do pintor ficou marcada nas sábias distribuições do marrom. O restante é introspecção e oração.
O segundo quadro é uma pintura mais consuetudinária, mais contumaz, como se diz, que deixa entrever toda a esplêndida técnica do pintor. A crucificação se desenvolve dentro de uma vala rodeada de grandes barrancos, que sobem em largos degraus. Maria, de joelhos, agarra-se à cruz, sendo a figura do próprio desespero. Um grupo de mulheres se afasta um pouco, respeitando seu momento, mas elas ali estão para apoiar a Virgem Maria. É a primeira hora, momento em que um soldado, em pé sobre uma elevação, lanceia o ventre de Cristo, que geme. O cimo do barranco está apinhado de curiosos, que nada querem perder do ‘espetáculo’. Alguns soldados a cavalo brandem suas lanças, ameaçando os condenados. O céu começa a encher-se de nuvens. Curiosamente, o amarelo e o vermelho dominam a cena, entremeados de azuis e rosas. Os condenados estão dispostos num ângulo , cujo vértice aponta para nós, trazendo o corpo santo para bem perto de nossa visão. É o que faz com seu corpo seja a mais clara e evidente forma do quadro.
Não demorará e Jesus estará dando o seu derradeiro suspiro. A maldade e a selvageria dos homens, que não têm tamanho, aí triunfaram, fazendo isto. Consumatum est.
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