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OBRAS IMPORTANTES DE GUIGNARD EM DESTAQUE
COM A ANÁLISE DO PROFESSOR PIERRE SANTOS
Cemitério de navios, 1939,001-39, ost, 44 X 75 cm.
A marinha sempre mantém um terreno-despejo cuja utilidade é guardar velhas embarcações, que ficaram imprestáveis, transformando-se em sucata. O artista gostava de pintar nesses monturos de vez em quando. Esta natureza morta feita de conchas na marina, pintada em 1939, é uma dessas obras. Ele acumulou ali no primeiro plano uma porção de conchas de moluscos das mais variadas ordens e formas, montando assim uma esdrúxula natureza morta, tão difícil de pintar-se quanto um vaso de flores, devido à multiplicidade de facetas, que vão variando em suas disposições e em suas tonalidades e exibindo sem alarde, de maneira bem dosada, as suas variações cromáticas, onde se encontram quase dissolvidas áreas de vermelho, azul, amarelo, cinza e bege.
Cinco barcos aí aparecem, dois brancos ao fundo, à nossa direita, dois já ancorados e presos à areia por poderosas correntes e um apenas entrando na paisagem aqui à esquerda, entre a construção que sem dúvida presta-se como escritório da marina e as montanhas lá atrás. Os dois ancorados e o branco ali navegando dispõem-se em ângulo aberto para nós, pondo em destaque a natureza morta feita de conchas. É incrível como nosso olhar passeia com facilidade por entre as curvas que as carapaças de moluscos vão fazendo em suas disposições. Um céu nublado, que esmaga inclusive o sol se pondo mais ou menos no centro do quadro com seus acanhados vermelhos e amarelos, dá-nos a sensação de estar passando com suas nuvens sobre nossas cabeças e indo para a retaguarda.
Este quadro, dada a natureza um tanto quanto esquisita deste monturo, é tido como pertencente à primeira fase surrealista de Guignard. O contexto desta pintura remete-nos, senão à realidade mostrada, ao seu significado último de dejeto daquilo que, tendo sido muito usado, perde a utilidade e é jogado fora.
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